Eu acreditava em contos de natais e escrevia cartas de amor.
Acreditava que falar palavrão na Quaresma iria atrair o diabo.
Eu dei meu primeiro dente para a fada, joguei em cima do telhado para ela pegar.
Eu fazia simpatia por que achava que funcionava.
Eu era a mais bonita da escola, eu era a princesa do papai.
Era o orgulho da minha família, era a inveja das minhas amigas.
Eu era o sonho dos meninos da sala junto com as pipas coloridas.
Eu enxergava formas nas nuvens no céu.
Eu queria mesmo gordinha ser bailarina e nos meus sonhos eu era especial.
Eu seria amada por um príncipe encantado e claro eu seria rica.
Eu acredita que nunca envelheceria...eu achava que eram velhos demais as pessoas de trinta.
Eu teria muitos filhos e uma carreira de sucesso e viveria de cor de rosa, brilho labial e salto 15.
Eu teria empregada, faria as faculdades mais caras, todas com bolsas de estudos...por mérito.
Eu seria imune a tristeza e ela não me tocaria e eu não veria a morte dos meus por que eles seriam eternos.
Meu pai iria entrar na igreja comigo, de véu e grinalda...iriam estar lá todos os meus amados amigos e parentes.
Eu não iria me decepcionar com as pessoas e não cometeria erros.
Eu iria sorrir do alto dos meus 1,70 e poucos kilos...e pele perfeita.
Enfim...eu sonhei da altura dos meus longe 7 anos...e ninguém me disse que eu não era como a Barbie de plástico que eu brincava.
O mundo real se apresentou a mim, sangue, suor, pus...e nessa selva sou apenas eu...com a minha essência e minha cota de erros.
Eu sou a mulher que acorda cedo para pegar o ônibus lotado, que trabalha pro governo para pagar a faculdade, que leva xingo de padrão e briga com o namorado.
Sou aquela que espreme espinhas que anda quebrando o pau com a balança, que evita o chocolate e conta os centavos para pagar as contas.
Sou aquela que corre as agências de emprego procurando uma colocação melhor no mercado.
Aquela que já deu fora que já foi rejeitada.
Eu sou aquela que se olha no espelho e vê mais um linha de expressão no rosto.
Que ganha mais um ano na identidade.
Que as fotos vão ficando desatualizadas, cabelo menor,cor diferente, sobrancelha que muda, unha que cresce e quebra.
Sou aquela que devora livros e mais livros na esperança de sugar a cultura...que preserva, perde e ganha amigos.
Sou aquela que chora as perdas e decepções.
Que magoa e é machucada...que se levanta a cada paulada.
Que sente saudades e que xinga o motorista que avançou o sinal.
Sou a mesma mulher que se apaixona todos os dias pelo mesmo homem...que vai casar, enfrentar a união onde tudo deve ser dividido.
Eu sou a mulher de carne e osso e real...que encara a vida que não é de brinquedo Lego...
Que encaixa suas peças por um amanhã sempre melhor.
Allah U Akbar. Graças a Deus eu sou imperfeita!
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